Os livros e o Prêmio Jabuti

Temos várias datas comemorativas em homenagem ao livro no Brasil, mas no dia 29 de outubro comemoramos o Dia Nacional do Livro. Essa data foi criada para lembrar o dia que foi fundado a Biblioteca Nacional do Brasil, quando a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para a colônia em 1810. A biblioteca fica Rio de Janeiro há 210 anos e foi criada por decreto, de Dom Pedro I, mas a biblioteca foi aberta ao público apenas em 1814. No ano de 2010, foi aprovada a lei 12.244 para universalização das Bibliotecas Escolares, determinando que todas as escolas públicas e privadas, deverão desenvolver esforços progressivos para constituírem bibliotecas com acervo mínimo de um título para cada aluno matriculado e ampliando com mais títulos e materiais de pesquisas. Nas últimas décadas as bibliotecas escolares receberam muitos livros de literatura do Programa do FNDE do MEC e/ou das Secretarias de Educação, estaduais e municipais, o que falta agora são projetos importantes de leitura. Temos professores, alunos e livros, precisa do esforço coletivo para formar cidadãos leitores. No tempo em que eu estudava nos anos 70, no ensino primário, não existiam livros didáticos e muito menos livros de literatura infanto-juvenil na escola pública, as professoras contavam histórias e a gente ficava imaginando as ilustrações. A gente queria ler e folhear aqueles livros raros que eram os clássicos infantis. E hoje, muitas bibliotecas escolares, estão cheias de livros maravilhosos (empoeirados) e pouca gente para cuidar deles, ou incentivar a leitura. Em tempos de aula Online, os alunos estão recebendo no celular ou nas ferramentas da Internet, os livros digitais, é uma forma de leitura inovadora também. Mas folhar um livro tem o seu prazer! Sabemos que a leitura é fundamental para a construção das identidades e visão do mundo das crianças e jovens, por isso, é importante à escolha certa dos livros. Esta semana, escutei a música e assisti a um vídeo da canção: “Pedagoginga” do Rapper Thiago Elniño, que faz uma crítica ao que não é ensinado na escola para formar cidadãos, e a frase que me tocou mais foi: “Nem todo livro, irmão, foi feito pra livrar. Depende da história contada e também de quem vai contar”. Há alguns anos era difícil encontrar livros infantis com protagonistas negros, escritos por autores e autoras negros ou autores que explorassem as raízes históricas, culturais e os saberes africanos e afro-brasileiros. Mas agora já existem diversas opções de títulos e até mesmo editoras que dedicam parte de seu catálogo aos temas afrodescendentes. O Prêmio Jabuti começa sua história nos anos 50, com intelectuais e estudiosos da literatura brasileira da Câmara Brasileira do Livro, mesmo com os recursos escassos e a baixa circulação de livros, criaram o prêmio com o símbolo jabuti, esse animal foi escolhido para valorizar a cultura popular brasileira, em suas raízes indígenas e africanas. O primeiro laureado com o prêmio foi Jorge Amado em 1959, na categoria Romance pelo livro: “Gabriela, Cravo e Canela”. Naquele ano, existiam poucas categorias e com o passar do tempo, foram se ampliando conforme os gêneros literários foram surgindo. Nesse ano, analisei a listagem do 62º Prêmio Jabuti e fiquei muito feliz com o resultado dos classificados. Encontrei mais de 20 livros escritos por negros e negras, ou com temas de africanidade. Vou relatar apenas dos escritores catarinenses, que muito nos orgulham, como o professor e historiador, Fábio Garcia de Florianópolis. Seu livro “Ildefonso Juvenal da Silva: um memorialista negro no Sul do Brasil” classificou-se na categoria crônica. Estou lendo o livro, que considero um livro importante para conhecimento de todos os brasileiros e principalmente dos catarinenses. Todo o conteúdo do livro é interessante, mas me chamou atenção uma carta que o naturalista Fritz Müller escreveu em 30 de maio de 1960, a seu irmão Hermann, falando da genialidade do seu discípulo negro: João da Cruz e Souza. E o livro trás muitas surpresas e informações sobre a biografia do protagonista, que deve ser reverenciado e mais conhecido, porque é uma personalidade negra importante e de grande influência em SC. Outro livro classificado foi Cadernos Negros – Volume 42 na categoria contos, com a participação de 41 autores do Brasil e da escritora Nana Martins de SC. O livro trás contos que são histórias que permitem olhares diversos sobre assuntos como relações afetivas, memórias familiares, violência policial, o dia a dia nos quilombos e muitos outros. Não poderia citar todos aqui, mas pelo que pesquisei, são livros interessantes por isso, foram classificados e todos merecem o prêmio final. Ficamos na torcida pelos nossos catarinenses! Parabéns aos escritores que existem e resistem na sua escrita, para formar leitores, porque o “hábito de ler muda a forma de ver o mundo”.

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