Crônica Aldir Blanc e a cultura brasileira

O ano de 2020 foi atípico em todos os sentidos, o coronavirus deixou sua marca negativa com tantas mortes e doenças. Tivemos poucas coisas positivas, em meio a tantas coisas ruins que aconteceram e que ainda acontecem no novo ano. Com a morte de Aldir Blanc tivemos grandes reflexões acerca da cultura no Brasil durante a pandemia, principalmente a falta de atividade artísticas, como teatro, shows musicais, ventos literários e tantas outras. Todos os artistas foram muito prejudicados com a falta de sua atividade remunerada. Através das atividades ‘online’, como lives e reuniões, a cultura começou a fazer parte das atividades cotidianas de todos, mas foi com a aprovação da lei nº 14.017, de 29 de junho de 2020, carinhosamente denominada Lei Aldir Blanc, que foi possível promover ações para garantir uma renda emergencial para trabalhadores da cultura e manutenção dos espaços culturais brasileiros, durante o período de pandemia do Covid‐19. Muitos artistas, como músicos, escritores, dançarinos e tantos outros, tiveram seus projetos aprovados através da lei, para exercerem sua arte, com auxílio financeiro, de forma a contribuir com a cultura do país. Aldir Blanc Mendes, que foi considerado o maior letrista de todos os tempos no Brasil, foi um ativista cultural e defensor dos direitos autorais. Exerceu diversas atividades como: jornalista, escritor, compositor, diretor artístico e produtor musical. Ele nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 setembro de 1946. Ingressou na Faculdade de Medicina em 1966, especializando-se em psiquiatria, mas em 1973, abandonou o curso para dedicar-se exclusivamente à música, tornando-se um dos mais importantes compositores da Música Popular Brasileira. No dia 4 de maio de 2020, Aldir com 73 anos de idade, faleceu em sua cidade natal, sendo vítima de complicações do Covid. Foi internado um mês antes com infecção urinária e pneumonia, que evoluíram para um quadro de infecção generalizada. Deixou triste todos os brasileiros e suas filhas Isabel e Mariana. Aldir Blanc foi parceiro de diversos cantores e compositores, deixa cerca de 500 temas gravados, entre samba, choro, valsa, baião, bolero, fox, frevo, por ele e por intérpretes como Elis Regina, Clara Nunes, Simone, Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Nana Caymmi, Leila Pinheiro, Ivan Lins, Djavan, Paulinho da Viola, MPB-4 e Elizeth Cardoso. O escritor nascido no Centro do Rio, era um observador, poeta da vida e da cidade. Captava a alma do subúrbio. Foi cronista e em suas histórias revelava paixões, como o bairro de Vila Isabel, onde passou a infância, o time do coração, o Vasco da Gama e o carnaval. Blanc batizou também um dos mais tradicionais blocos do Rio, o "Simpatia é Quase Amor". Com compositores, como Ivan Lins, Gonzaguinha e Marco Aurélio, funda o Movimento Artístico Universitário (MAU) e torna-se conhecido por criar e integrar associações ligadas à defesa dos direitos autorais. É um dos fundadores da Sociedade Musical Brasileira (Sombras) - responsável pela arrecadação de direitos autorais - da Sociedade de Artistas e Compositores Independentes (Saci) e da Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes (Amar). Blanc teve algumas canções na trilha de abertura de novelas e séries para a TV brasileira, principalmente para a Rede Globo, como abertura da novela Gabriela, música Visconde de Sabugosa para o seriado O Sítio do Pica-Pau Amarelo, Coração Agreste na novela Tieta, Confins para novelas Renascer e Suave Veneno. Abertura da novela Chocolate com Pimenta e a canção Bijuterias para a minissérie O Astro. Em 1979, Elis Regina grava a música de Blanc e João Bosco “O Bêbado e a Equilibrista” a canção é uma paródia com todas as suas metáforas para falar do período de forte repressão militar, foi adotada como o hino da anistia aos presos políticos. Por ser cronista, suas canções descrevem histórias do cotidiano e usa um tom jocoso e escrachado, com humor e muita reflexão consegue contar uma história de amor, assim como em samba relatar fatos triste da ditadura no país. Considerado como compositor com grande versatilidade de estilos musicais, pois, teve vasta leitura de livros técnicos em sua formação em medicina e leitura de vários estilos literário. Ainda jovem aprendeu a tocar bateria e frequentou terreiros de Candomblé, todos esses fatos, lhe deram grande bagagem de vocabulário para escrever músicas e crônicas. Aldir Blanc também escreveu para jornais do Rio e São Paulo e publicou livros em prosa e poesia como Rua dos Artistas e Transversais (2006), a compilação de seus livros de crônicas Rua dos Artistas e Arredores (1978) e Porta de Tinturaria (1981), com textos também escritos para o Jornal do Brasil, O Pasquim e a revista Bundas. Publicou ainda "Um cara bacana na 19ª" (Ed. Record, 1996), com crônicas, contos e desenhos. No seu aniversário de 70 anos, foram lançados os livros "Vila Isabel, inventário da infância", obra que reúne todos os textos de Aldir sobre a Vila Isabel de sua meninice, além dos inéditos "O gabinete do doutor Blanc: sobre jazz, literatura e outros improvisos" e "Direto do balcão", com crônicas que o autor publicou em jornais e revistas ao longo das últimas duas décadas. Essa lei, foi um dos pontos positivos, porque os artistas puderam inscrever sua arte em diversos sistemas de cultura, nas fundações municipais e estaduais, com seus Conselhos Culturais e com a participação de toda sociedade civil. Os artistas deverão em contrapartida, deverão transmitir pelas redes sociais ou outras plataformas digitais a sua arte, para que a população tenha lazer e acesso a diversas culturas. Os artistas que tanto fazem para ir onde o povo está - considerando que a cultura está em todos os cantos do Brasil - devem ser apoiados e valorizados por todos os brasileiros, para que possamos crescer e evoluir culturalmente.

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