Centenário da Arte Moderna com concurso literário e coletânea - AJEB/SC


No dia 10/12/2022 - A AJEB/SC, realizou o evento de Premiação do Concurso Literário e 
lançamento da Antologia com a participação dos textos dos classificados e membros da diretoria


Sissa Moroso como Mestre de Cerimônia da Entrega de Premiação como 
coordenadora do Concurso Literário do Centenário da Arte Moderna no Brasil

 

Sissa Moroso com suas afilhadas literárias da AJEB/SC

 


Sissa Moroso com Presidente ajeb/SC Dioni Virtuoso e afilhada Nelma Baldin


Afilhada Janice Pavan



Afilhada Rosa Inês Machado


Afilhada Jucilane da Silva de Forquilhinha


TEXTO DE SISSA MOROSO NA COLETÂNEA

 

Crônica: “As Primeiras Brasileiras Modernistas”

                                                                                                          (Sissa Moroso)

 Nesse ano de 2022, vamos comemorar algumas datas importantes, como os duzentos anos da “Independência do Brasil”, no dia 7 de setembro de 1822. Esse marco na história do Brasil trouxe profundas mudanças políticas, que ainda hoje servem de lição e reflexão.

No ano de 1922, cem anos depois desse fato, vamos ter uma revolução nas artes e literatura do país, que se apresenta para nós, como a primeira manifestação pública de cultura, de forma moderna e totalmente contrária a arte conservadora daquele século.

No ano de 1840 o rei Dom João VI, fundou no Rio de Janeiro a Academia Imperial de Belas Artes que passou a aceitar arte feminina, onde elas poderiam participar de concursos. Mas apenas em 1884, a jovem pintora carioca Abigail de Andrade, recebeu o prêmio porque encantou a todos com suas obras que eram de autorretratos.

Em 1987 a jovem paraense Julieta de França, se matriculou na Escola de Belas Artes e na aula de modelo vivo, mesmo contra vontade de todos e foi a primeira mulher a receber um prêmio de viagem ao exterior, acho que os homens deram o prêmio para ela sair do curso e na França ela aproveitou a oportunidade e se aperfeiçoou em escultura com o mestre Auguste Rodin,  que já era um grande artista.

A Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro aceitava mulheres na instituição, mas havia muitas dificuldades, tais como: salas e ateliês separados, ou ainda a restrição ao acesso às aulas de modelo vivo, pois era um escândalo mulheres junto com os homens, contemplar modelos despidos, já que o nu era uma das etapas na formação dos artistas daquela época.

Vamos conhecer as mulheres que tiveram que lutar muito para construir suas trajetórias como artistas, no meio de tantos homens no século XIX, a luta era principalmente em defesa do reconhecimento e da profissionalização.

As mulheres que se destacaram nas artes visuais com nome mais conhecidos foram Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, que foram consideradas protagonistas nesse cenário, no entanto, a Tarsila não participou da Semana da Arte Moderna, pois estava em Paris e chegou uma semana depois, mas teve sua arte reconhecida por todos e Anita viveu de sua pintura, nunca se casou e não era rica com a Tarsila.

Em vários estados do Brasil tivemos outros nomes femininos, que foram importantes, mas que foram esquecidas pela historiografia brasileira, assim como a mineira Tereza Aita, conhecida como Zina Aita, que nasceu em Belo Horizonte e participou do modernismo com várias linguagens e técnicas, tais como: aquarelas, telas, tapeçaria, cerâmica e desenho.

Tivemos a introdução da tapeçaria no Brasil, com a artista pintora e decoradora Regina Gomide Graz, era de São Paulo e estudou na Escola de Belas Artes de Genebra na Suíça com seu irmão entre 1913 e 1920 e no Brasil, pesquisou sobre tecelagem indígena do Alto Amazonas, sendo a pioneira na tradição indígena brasileira.

No mesmo contexto da Semana da Arte Moderna, uma mulher foi premiada por uma pintura histórica sobre a Independência do Brasil, era a artista paulista Georgina de Albuquerque. O prêmio foi concedido pela Escola Nacional de Belas Artes, e na obra ela questionava as representações de poder, colocando uma mulher no centro de um acontecimento histórico, e isso era uma transgressão já que política era um assunto vetado às mulheres.

Na música, podemos destacar Elsie Houston, que era filha de brasileira com um americano. Era afro-brasileira, cantora, arranjadora e escritora, sempre ligada ao movimento modernista. Começou estudando piano com sete anos e aos quinze começou canto. Ela morou em diversos países e cantou pelo mundo em 14 línguas. Foi sempre uma grande entusiasta do canto brasileiro e das vozes das festas de rua, rodas e terreiros, buscava de aprofundar no conhecimento sobre o candomblé e umbanda. Em 1930 publicou na França, o livro “Cantos Populares do Brasil” ou seja,  Chant Populaires di Brésil, mas nunca foi traduzido para o português e nem teve edição nacional.

Tivemos também outras cantoras, pesquisadoras e folcloristas, que foram esquecidas, tais como Olga Praguer Coelho, Jesy Barbosa, Helena de Magalhães Castro, Stefana de Macedo e Amélia Brandão Nery.

Na arte da escrita, teremos Patrícia Rehder Galvão, a Pagú, que foi escritora, jornalista e uma das grandes mulheres do movimento modernista brasileiro. Ela militou no partido comunista, foi presa diversas vezes, sendo a primeira mulher presa no país por motivos políticos. Foi uma grande animadora cultural, dedicou-se à grupos amadores de teatro.

Ainda na área da escrita teremos Maria Lacerda de Moura que podemos definir como uma intelectual feminista, que em 1919 fundou a Liga pela Emancipação Feminina junto da bióloga Bertha Lutz, organização que lutava principalmente pelo sufrágio feminino. Outra escritora foi a Maria Cecília Bandeira de Melo que como tantas, escreveram sobre direito do voto feminino e divórcio.

Tivemos nesse país tantas Anitas, Julietas, Marias e muitas outras, que fizeram de tudo para ocupar o espaço da mulher nas artes e na sociedade tão machista, que infelizmente ainda impera nesse século.

Nós, ajebianas, devemos nos espelhar nessas mulheres e na nossa patrona que é Hellê Vellozo Fernandes que nasceu três anos depois da Semana da Arte Moderna e que tanto fez pelas mulheres desse Brasil, sendo uma das fundadoras na nossa associação, bem como uma das primeiras romancistas de Santa Catarina, Ana Luíza de Azevedo e Castro, que escreveu “Dona Narcisa de Villar” sobre o pseudônimo de Indígena do Ypiranga, no ano de 1859, ou seja, sessenta e três anos antes do modernismo no Brasil.

Temos muito que nos orgulhar, de todas as mulheres guerreiras, que nos antecederam na cultura brasileira! 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Portfólio de Sissa Moroso

O menor casal do mundo é separado

Gentil do Orocongo