Centenário da Arte Moderna com concurso literário e coletânea - AJEB/SC
Sissa Moroso com suas afilhadas literárias da AJEB/SC
Afilhada Jucilane da Silva de Forquilhinha
Crônica: “As Primeiras Brasileiras Modernistas”
(Sissa Moroso)
No ano de 1922,
cem anos depois desse fato, vamos ter uma revolução nas artes e literatura do
país, que se apresenta para nós, como a primeira manifestação pública de
cultura, de forma moderna e totalmente contrária a arte conservadora daquele
século.
No ano de 1840 o
rei Dom João VI, fundou no Rio de Janeiro a Academia Imperial de Belas Artes
que passou a aceitar arte feminina, onde elas poderiam participar de concursos.
Mas apenas em 1884, a jovem pintora carioca Abigail de Andrade, recebeu o prêmio porque encantou a todos com
suas obras que eram de autorretratos.
Em 1987 a jovem
paraense Julieta de França, se
matriculou na Escola de Belas Artes e na aula de modelo vivo, mesmo contra
vontade de todos e foi a primeira mulher a receber um prêmio de viagem ao
exterior, acho que os homens deram o prêmio para ela sair do curso e na França
ela aproveitou a oportunidade e se aperfeiçoou em escultura com o mestre
Auguste Rodin, que já era um grande
artista.
A Escola
Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro aceitava mulheres na instituição, mas
havia muitas dificuldades, tais como: salas e ateliês separados, ou ainda a
restrição ao acesso às aulas de modelo vivo, pois era um escândalo mulheres
junto com os homens, contemplar modelos despidos, já que o nu era uma das
etapas na formação dos artistas daquela época.
Vamos conhecer
as mulheres que tiveram que lutar muito para construir suas trajetórias como
artistas, no meio de tantos homens no século XIX, a luta era principalmente em
defesa do reconhecimento e da profissionalização.
As mulheres que
se destacaram nas artes visuais com nome mais conhecidos foram Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, que
foram consideradas protagonistas nesse cenário, no entanto, a Tarsila não
participou da Semana da Arte Moderna, pois estava em Paris e chegou uma semana
depois, mas teve sua arte reconhecida por todos e Anita viveu de sua pintura,
nunca se casou e não era rica com a Tarsila.
Em vários
estados do Brasil tivemos outros nomes femininos, que foram importantes, mas
que foram esquecidas pela historiografia brasileira, assim como a mineira Tereza
Aita, conhecida como Zina Aita, que
nasceu em Belo Horizonte e participou do modernismo com várias linguagens e
técnicas, tais como: aquarelas, telas, tapeçaria, cerâmica e desenho.
Tivemos a
introdução da tapeçaria no Brasil, com a artista pintora e decoradora Regina Gomide Graz, era de São Paulo e
estudou na Escola de Belas Artes de Genebra na Suíça com seu irmão entre 1913 e
1920 e no Brasil, pesquisou sobre tecelagem indígena do Alto Amazonas, sendo a
pioneira na tradição indígena brasileira.
No mesmo
contexto da Semana da Arte Moderna, uma mulher foi premiada por uma pintura
histórica sobre a Independência do Brasil, era a artista paulista Georgina de Albuquerque. O prêmio foi
concedido pela Escola Nacional de Belas Artes, e na obra ela questionava as
representações de poder, colocando uma mulher no centro de um acontecimento
histórico, e isso era uma transgressão já que política era um assunto vetado às
mulheres.
Na música,
podemos destacar Elsie Houston, que
era filha de brasileira com um americano. Era afro-brasileira, cantora,
arranjadora e escritora, sempre ligada ao movimento modernista. Começou
estudando piano com sete anos e aos quinze começou canto. Ela morou em diversos
países e cantou pelo mundo em 14 línguas. Foi sempre uma grande entusiasta do
canto brasileiro e das vozes das festas de rua, rodas e terreiros, buscava de
aprofundar no conhecimento sobre o candomblé e umbanda. Em 1930 publicou na França,
o livro “Cantos Populares do Brasil” ou seja,
Chant Populaires di Brésil, mas nunca foi traduzido para o português e
nem teve edição nacional.
Tivemos também
outras cantoras, pesquisadoras e folcloristas, que foram esquecidas, tais como
Olga Praguer Coelho, Jesy Barbosa, Helena de Magalhães Castro, Stefana de
Macedo e Amélia Brandão Nery.
Na arte da
escrita, teremos Patrícia Rehder Galvão,
a Pagú, que foi escritora, jornalista e uma das grandes mulheres do movimento
modernista brasileiro. Ela militou no partido comunista, foi presa diversas
vezes, sendo a primeira mulher presa no país por motivos políticos. Foi uma
grande animadora cultural, dedicou-se à grupos amadores de teatro.
Ainda na área da
escrita teremos Maria Lacerda de Moura
que podemos definir como uma intelectual feminista, que em 1919 fundou a Liga pela Emancipação Feminina junto
da bióloga Bertha Lutz,
organização que lutava principalmente pelo sufrágio feminino. Outra escritora
foi a Maria Cecília Bandeira de Melo que como tantas, escreveram sobre direito
do voto feminino e divórcio.
Tivemos nesse
país tantas Anitas, Julietas, Marias e muitas outras, que fizeram de tudo para
ocupar o espaço da mulher nas artes e na sociedade tão machista, que
infelizmente ainda impera nesse século.
Nós, ajebianas, devemos
nos espelhar nessas mulheres e na nossa patrona que é Hellê Vellozo Fernandes que nasceu três anos depois da Semana da
Arte Moderna e que tanto fez pelas mulheres desse Brasil, sendo uma das
fundadoras na nossa associação, bem como uma das primeiras romancistas de Santa
Catarina, Ana Luíza de Azevedo e Castro,
que escreveu “Dona Narcisa de Villar” sobre o pseudônimo de Indígena do Ypiranga, no ano de 1859, ou
seja, sessenta e três anos antes do modernismo no Brasil.
Temos muito que nos orgulhar, de todas as mulheres guerreiras, que nos antecederam na cultura brasileira!
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