CRÔNICA - Greve dos professores em SC

A REALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA  


 Rosilda Moroso (Sissa)

A professora de História foi dormir a meia noite, pois estava corrigindo prova, preparando aula e pensando numa desculpa para o marido, por causa da tripla jornada. Aproveitou o pouco tempo que tinha e colocou a roupa na máquina e botou o arroz para cozinhar, para o dia seguinte.

Os professores levam trabalho para a casa todos os dias. Suas famílias às vezes são esquecidas!

O professor de Matemática acordou cedo pra fazer as contas e dividir os poucos bens, porque a esposa pediu o divórcio. Ela não agüentou a falta do esposo em casa, também 60 horas semanais e o dinheiro? Faltando sempre!

Os poucos professores homens, são ainda uns lutadores nesta profissão, daqui a pouco não teremos nem professores, nem professoras.

A professora de Língua Portuguesa, procurando nos livros novos exercícios de gramática e aproveitou sua pesquisa na Internet, para ver novas metodologias, com intuito de atrair a atenção dos seus alunos. Mas pensou, porque estou tão preocupada em ensinar e se eles não querem aprender?

Os professores além de estudar na graduação, vivem estudando e se reciclando!

A professora de Língua Inglesa, estava preocupada porque os alunos da sexta série foram mal na prova. Ninguém sabe escrever inglês, mas muitos não sabem nem o português! Pra que me dedicar tanto e fazer recuperação paralela se eles vão todos passar de ano mesmo?

A mudança de grade do Ensino Fundamental para 9 anos, ainda não melhorou a educação.

E o professor Admitido em Caráter Temporário, é chamado de “acetanso”, porque não têm concurso público para ele se efetivar numa escola e dormir tranqüilo. Ele sabe que sendo funcionário efetivo, terá plano de saúde, (talvez o melhor recurso que vai receber) e o mais importante, não precisa mais ficar na fila, no calor insuportável de janeiro.

O governo não faz concuros público, pois é melhor contratar e dispensar, que o INSS paga tudo, pois não tem mais previdência própria, nem BESC...

Na sala de informática, o professor de Ciências quer trabalhar um programa sobre as células, mas o professor (que não é professor) da sala informatizada, diz que a conexão da Internet caiu e que só tem cinco computadores funcionando. Volta para a sala o professor, com “giz e cuspe” e livro didático como recurso, nada tecnológico e de qualidade inferior.

O Estado não pode contratar para a educação quem não é professor, então dá nome pra quem não tem formação em licenciatura.

A servente (a palavra deriva de “servo”) reclama que os alunos escrevem na parede e nas carteiras e não agüenta mais limpar todos os dias, aquelas frases e desenhos obscenos.

Os funcionários da escola, nos serviços gerais são pagos pela APP, que tem que correr atrás do dinheiro para completar no banco.

A coordenadora pedagógica tomou seu comprimido para ansiedade e foi dormir cedo, pois pensou: Amanhã pode faltar algum professor e tenho que substituir e os projetos ficam pra depois, se não aparecer nenhum problema de aluno indisciplinado pra resolver.

Os Assistentes Técnicos Pedagógicos, são considerados "pau pra toda obra".

A diretora, não conseguiu dormir. A escola está pichada, não tem dinheiro pra comprar tintas, tem porta sem fechaduras, tem banheiro entupido e o PDDE só aparece no final do ano quando a escola já está em dívidas com o comércio local.

Os gestores das escolas públicas, principalmente os diretores são professores efetivos em cargos de comissão, pois no estado de SC não tem eleição direta para diretor.

A Supervisora escolar, diz que nunca na história da escola pública, chegou tanto material didático, mas nunca os professores tiveram tanta doença, até parece um corpo doente e não docente! Ás vezes o Governo cuida tanto de uma parte e esquece de outra, talvez a mais importante: “O recurso humano”.

O FUNDEB tem dinheiro para materiais e livros, mas não tem para o pagamento dos educadores que usam este material em sala de aula, a lei não é cumprida.

A Assistente de Educação (secretária da escola) faz a parte burocrática, gera o boletim do aluno no sistema, agora faz também a folha de pagamento e se sair errada, é culpada pela negligência e falta de atenção.

Os pais dos alunos estão divididos. Diz uma mãe: “A greve é necessária sim, coitados dos professores, ganham muito pouco, nós temos uma criança em casa e eles têm às vezes 30”. Outro pai diz - “Cambada de vagabundos, vão trabalhar. Como vamos fazer com estes filhos em casa, só fazendo bagunça”.

A escola muitas vezes é apenas um depósito de crianças, para algumas famílias.

Muito aluno quer estudar para aprender, para fazer ENEM, para ser alguém.
Alguns alunos não querem mais ir pra escola porque sofrem bullying, são chamados para o dinheiro fácil para o tráfico, porque estão cansados de fazer bolinhas de papel, pra jogar nos colegas e nos professores, porque a escola é “um saco” e culpam o professor pela péssima nota no boletim.

E tem gente que acha que a GREVE é imoral ou engorda!

Todos pela educação de qualidade já. Esta luta é de toda sociedade catarinense!

Comentários

  1. PARABÉNS SISSA ,ADOREI.
    E A LUTA CONTINUA...
    BJOS
    ELISETE

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  2. Oi Sissa... soube do teu Blog pela Mônica (tua ex aluna de pedagogia).
    Adorei seu texto, mostra exatamente a realidade de quem vive a educação aqui em SC!
    Gostaria de te dar parabéns... mas acho que o certo é lamentar.. porque na verdade, gostaria de ler outra realidade!

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