Coletânea Mulheres Extraordinárias - Vol 3
A indígena Rosane Mattos do povo Kaingang, nasceu em 1962 no Rio Grande
do Sul e tinha Kokoj como nome
indígena que significa “beija-flor”. Esse nome foi lhe dado por seu avó, quando
do seu nascimento, durante uma cerimônia em homenagem à sua bisavó que faleceu
com 120 anos. Pouco se sabe sobre sua infância, cidade e terra indígena onde
residiu. O que se sabe é que ela foi casada com Álvaro Tukani, que foi um
grande líder indígena na década de oitenta. Se esposo chamava-se Álvaro
Fernandes Sampaio, que era da Terra Indígena Tukanos do Alto Rio Negro no
Amazonas. Com certeza dessa convivência com ele, Rosane aprendeu muito e
vivenciou a história das lutas indígenas no Brasil e juntos se tornaram
lideranças muito influente e respeitada em todo país.
A sua trajetória foi de uma atuação política em defesa dos povos
indígenas e da realização de projetos dedicados às mulheres indígenas. Com 30
anos de idade, Rosane atuou como militante nacional, na Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-RJ) em junho de
1992. Com certeza as discussões da constituinte com participação dos indígenas
de todo Brasil, resultou também na participação deles nesse evento mundial,
tendo o povo indígena, como o maior protetor do meio ambiente no país. Mas esse
povo também sofreu e sofre até hoje, por defender sua cultura e principalmente
pela permanência em seu habitat natural.
Em
setembro de 1995, foi umas das fundadoras do Conselho Nacional das Mulheres
Indígenas (CONAMI). Esse Conselho surgiu no Encontro de Mulheres Indígenas,
após três anos da ECO-92, no governo do Fernando Henrique Cardoso (1995), foram
três anos de persistência e de luta para que as mulheres, lideranças indígenas
de todas as regiões do Brasil, conseguissem se reunir, trocar experiências e
discutir os problemas das mulheres indígenas e seu povo, assim como, levantar propostas
e sugestões de políticas públicas. A indígena “gaúcha” Rosane, passou a
representar a região sul nesse conselho.
Entre
2005 e 2007 no Governo Lula, foi coordenadora de Desenvolvimento Comunitário da
FUNAI, sendo a primeira mulher indígena a assumir uma coordenação geral, nessa
instituição. Nessa função, foi uma grande incentivadora de organização política
das mulheres indígenas, criando estrutura para essa finalidade e também foi
responsável por uma missão do Conselho Nacional de Direitos Humanos, que
investigou as condições de vida dos indígenas da região sul do Brasil.
No ano de 2009, participou da fundação da
Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil (APIB). Em seguida, trabalhou na articulação
política da Arpinsul, participando de reuniões, seminários, audiências e
mobilizações das delegações indígenas, em especial a Mobilização Nacional
Indígena e o Acampamento Terra Livre.
Por
mais de vinte anos, Rosane Kaingang, sempre atuou pela vida dos povos
originários, participando de organização de políticas públicas e defesa dos
seus “parentes”. As etnias indígenas no Brasil, com sua diversidade de língua e
religiosidade são diferentes em sua cultura, mas se consideram parentes pela
mesma luta que é pela sobrevivência e respeito pela sua subjetividade.
De acordo com o últimos dados do
Siasi/Sesai em 2017, os Kaingang representaram a terceira maior etnia indígena
do Brasil, com aproximadamente 46
mil pessoas. Eles estão espalhados por áreas dos três estados da Região
Sul e também em São Paulo. No ano
passado escrevi um livro sobre as etnias indígenas de Santa Catarina e em minha
pesquisa, os Kaingangs são a maioria dos indígenas e somam mais de sete mil
pessoas distribuídas em cinco Terras Indígenas e uma Reserva em meu Estado.
Temos também muitas lideranças
femininas, que nesse ano, estão assumindo coordenação no recém criado
Ministério dos Povos Indígenas do Brasil, tendo à frente como Ministra Sonia
Guajajara, que quando da morte de Rosane, era coordenadora da APIB, lamentou
dizendo: “Rosane Kaingang foi exemplo de luta, de persistência, de dedicação,
de amor à causa indígena. E com essa mesma coragem e força ela enfrentou um
maldito câncer que a levou para junto de seus ancestrais”.
Uma das
atividades mais importantes de política pública que Rosane fez, foi
proporcionar atividades em todas as terras indígenas, para as mulheres, tais
como palestras sobre a Lei Maria da Penha, oficinas de artesanatos e atividades
de renda para os povos indígenas e várias atividades de fortalecimento da luta
das mulheres indígenas, como encontros e formações diversas.
Sua luta foi
pelas mulheres e também pelos povos originários, defendendo a demarcação das
terras, lutando por direito à educação e saúde de qualidade e principalmente
denunciando toda violação dos direitos humanos em território brasileiro.
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