Coletânea Mulheres Extraordinárias - Vol 3



Participei da coletânia de 2023, Organizado pela Rede Sem Fronteiras
com a pesquisa bibliográfica da indígena Rosane Mattos Kaingang.



O lançamento da coletânea foi na Feira do Livro de Lisboa (online e presencial)



 Rosane Mattos Kaingang - Por Sissa Moroso


A indígena Rosane Mattos do povo Kaingang, nasceu em 1962 no Rio Grande do Sul e tinha Kokoj como nome indígena que significa “beija-flor”. Esse nome foi lhe dado por seu avó, quando do seu nascimento, durante uma cerimônia em homenagem à sua bisavó que faleceu com 120 anos. Pouco se sabe sobre sua infância, cidade e terra indígena onde residiu. O que se sabe é que ela foi casada com Álvaro Tukani, que foi um grande líder indígena na década de oitenta. Se esposo chamava-se Álvaro Fernandes Sampaio, que era da Terra Indígena Tukanos do Alto Rio Negro no Amazonas. Com certeza dessa convivência com ele, Rosane aprendeu muito e vivenciou a história das lutas indígenas no Brasil e juntos se tornaram lideranças muito influente e respeitada em todo país.

A sua trajetória foi de uma atuação política em defesa dos povos indígenas e da realização de projetos dedicados às mulheres indígenas. Com 30 anos de idade, Rosane atuou como militante nacional, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-RJ) em junho de 1992. Com certeza as discussões da constituinte com participação dos indígenas de todo Brasil, resultou também na participação deles nesse evento mundial, tendo o povo indígena, como o maior protetor do meio ambiente no país. Mas esse povo também sofreu e sofre até hoje, por defender sua cultura e principalmente pela permanência em seu habitat natural.

              Em setembro de 1995, foi umas das fundadoras do Conselho Nacional das Mulheres Indígenas (CONAMI). Esse Conselho surgiu no Encontro de Mulheres Indígenas, após três anos da ECO-92, no governo do Fernando Henrique Cardoso (1995), foram três anos de persistência e de luta para que as mulheres, lideranças indígenas de todas as regiões do Brasil, conseguissem se reunir, trocar experiências e discutir os problemas das mulheres indígenas e seu povo, assim como, levantar propostas e sugestões de políticas públicas. A indígena “gaúcha” Rosane, passou a representar a região sul nesse conselho.

             Em 2001, atuou na Fundação Nacional do Índio (FUNAI), uma entidade que foi criada em 1697, após a extinção do Serviço de Proteção ao Índio, com a finalidade de proteção aos interesses e cultura indígena.

           Entre 2005 e 2007 no Governo Lula, foi coordenadora de Desenvolvimento Comunitário da FUNAI, sendo a primeira mulher indígena a assumir uma coordenação geral, nessa instituição. Nessa função, foi uma grande incentivadora de organização política das mulheres indígenas, criando estrutura para essa finalidade e também foi responsável por uma missão do Conselho Nacional de Direitos Humanos, que investigou as condições de vida dos indígenas da região sul do Brasil. 

            No ano de 2009, participou da fundação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).  Em seguida, trabalhou na articulação política da Arpinsul, participando de reuniões, seminários, audiências e mobilizações das delegações indígenas, em especial a Mobilização Nacional Indígena e o Acampamento Terra Livre.

            Por mais de vinte anos, Rosane Kaingang, sempre atuou pela vida dos povos originários, participando de organização de políticas públicas e defesa dos seus “parentes”. As etnias indígenas no Brasil, com sua diversidade de língua e religiosidade são diferentes em sua cultura, mas se consideram parentes pela mesma luta que é pela sobrevivência e respeito pela sua subjetividade.

             De acordo com o últimos dados do Siasi/Sesai em 2017, os Kaingang representaram a terceira maior etnia indígena do Brasil, com aproximadamente 46 mil pessoas. Eles estão espalhados por áreas dos três estados da Região Sul e também em São Paulo.  No ano passado escrevi um livro sobre as etnias indígenas de Santa Catarina e em minha pesquisa, os Kaingangs são a maioria dos indígenas e somam mais de sete mil pessoas distribuídas em cinco Terras Indígenas e uma Reserva em meu Estado.

             Temos também muitas lideranças femininas, que nesse ano, estão assumindo coordenação no recém criado Ministério dos Povos Indígenas do Brasil, tendo à frente como Ministra Sonia Guajajara, que quando da morte de Rosane, era coordenadora da APIB, lamentou dizendo: “Rosane Kaingang foi exemplo de luta, de persistência, de dedicação, de amor à causa indígena. E com essa mesma coragem e força ela enfrentou um maldito câncer que a levou para junto de seus ancestrais”. 

                 No dia 16 de outubro de 2016, faleceu Rosane Mattos Kaingang, após três anos de luta pela doença. Recentemente, em 3 de junho de 2022, Rosane foi homenageada com um doodle na logomarca do Google — uma forma da empresa comemorar datas e homenagear pessoas. Isso reforça a importância que ela teve para o movimento indígena e para o país. Muita gente que não conhecia a história dela ficou sabendo da sua militância, por causa dessa homenagem, muito merecida.

            Uma das atividades mais importantes de política pública que Rosane fez, foi proporcionar atividades em todas as terras indígenas, para as mulheres, tais como palestras sobre a Lei Maria da Penha, oficinas de artesanatos e atividades de renda para os povos indígenas e várias atividades de fortalecimento da luta das mulheres indígenas, como encontros e formações diversas.

           Sua luta foi pelas mulheres e também pelos povos originários, defendendo a demarcação das terras, lutando por direito à educação e saúde de qualidade e principalmente denunciando toda violação dos direitos humanos em território brasileiro.

             


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