Coletânea: Mulheres Extraordinárias - AJEB/RJ - VOLUME 1
Presenteando amiga Kelly Dalla Lana com o livro.
Júlia Alves Barbosa, uma educadora
política!
Coletânea Mulheres
Extraordinárias - AJB/RJ - p. 377-380
Rosilda
Mara Rodrigues Moroso (Sissa)
A
luta das mulheres brasileiras sempre foi decisiva na conquista da cidadania,
dos direitos sociais e na ampliação da participação nos mais diversos setores
da vida social, profissional e política. Na história do Brasil, vimos que a
sociedade reproduziu as relações desiguais de gênero, de raça e de classe, mas
que ainda na atualidade, temos muito a lutar para ampliação de nossos direitos.
Ser cidadão é participar
política, econômica e socialmente da vida do país, por isso, a sociedade
brasileira sempre lutou para conquistar os direitos políticos, o direito de
votar e ser votado e de escolher seus governantes e representantes. Antes, os
pobres, negros, mulheres e analfabetos não tinham esses direitos garantidos em
lei. As mulheres só conquistaram o direito de votar e ser votadas a partir da
Constituição de 1937.
Os direitos políticos das
mulheres no Brasil teve a luta de mulheres em todo país e na década de vinte,
no Rio Grande do Norte, duas mulheres lutaram a favor do direto de voto: Celina
Guimarães Viana e Júlia Alves Barbosa, que será a nossa protagonista neste
texto biográfico.
Júlia Alves Barbosa, potiguar,
nasceu na cidade de Natal, em 24 de novembro de 1898, seu pai era major e foi
suplente de intendente, sua mãe também se chamava Júlia, faleceu no parto com
35 anos, deixando cinco filhos. Júlia destacou-se na sua cidade como educadora,
sendo a primeira professora de Matemática, graduada e concursada na Escola
Normal do Estado.
O Rio Grande do Norte foi o
primeiro Estado Brasileiro a conceder o voto às mulheres, através da Lei n°
660, que não fazia distinção de sexo para os eleitores. Então, Júlia no dia 22
de novembro de 1927, solicitou seu alistamento eleitoral. Entretanto, a
professora de Mossoró, Celina Guimarães Viana, conforme Diário Oficial é a
primeira mulher a requerer esse direito. Celina era casada e tinha esposo
influente e Júlia com 29 anos, era solteira, por isso, sua solicitação demorou
a ser aceita, sendo aprovada apenas em 1° de dezembro, mesmo sendo ela a
pioneira nesta solicitação.
A professora Júlia, sempre foi uma
mulher a frente do seu tempo, foi uma das fundadoras da Associação de Eleitoras
Norte-rio-grandenses, entidade que fazia um trabalho de sensibilização da
participação das mulheres, para o direito de votar, ser representada e
participar das tomadas de decisões, ou seja, a favor da cidadania feminina.
Pela legislação da época, para votar, as mulheres deveriam ter mais de 21 anos,
não podia ser analfabetas, e deveriam ter uma profissão, também não podiam ser
freiras ou religiosas. Portanto, para votar, havia critérios que segregavam as
mulheres, porque os direitos eram apenas para algumas “privilegiadas”.
Com seu ativismo político, Júlia
foi eleita como Intendente Municipal, (vereadora) com mandato de 1929 a 1931,
para representar a classe feminina, principalmente. Este fato lhe rendeu
conhecimento em todo país. No ano seguinte, na cidade de Lajes (RN), foi eleita
a primeira prefeita da América do Sul, a senhora Alzira Soriano, graças a esses
movimentos das mulheres em todo Estado. Atualmente o Estado do Rio Grande do
Norte é governado por uma mulher: a pedagoga Fátima Bezerra, eleita pelo voto
popular em 2018. Já tivemos uma mulher na presidência do Brasil! Que bom que
alguém teve coragem de iniciar nessa luta.
No dia 04 de junho de 1932, a
professora Júlia com 33 anos, casa-se com o professor Francisco Ivo Cavalcanti,
poeta, escritor e advogado, tinha 40 anos e era viúvo da senhora Hercília, que
havia falecido, dois anos antes, deixando filhos pequenos. Francisco e Júlia
tiveram três filhos: Gustavo, Maria de Fátima e André Luís. Assim como Júlia,
seu esposo era um ativista político e participante dos movimentos culturais da
cidade, foi membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, publicando
diversos livros.
A professora Júlia, faleceu no dia
17 de novembro de 1942 com 45 anos, deixando seu esposo novamente viúvo, com
crianças de 7, 6 e 3 anos de idade, ele casou-se mais duas vezes, falecendo no
ano de 1969.
Nossa homenageada nesse texto viveu
numa época difícil para as mulheres, mas não se intimidou, ficaria feliz com os
avanços que tivemos com sua luta e de tantas mulheres extraordinárias, também
lembradas nessa coletânea, que foi impossível de contemplar todas.
Precisamos de maior
representatividade feminina na política, conforme a lei de cotas, pois 30%
poderiam ser de homens e o restante de mulheres, a lei não determina o sexo!
Precisamos continuar na luta pela erradicação da violência doméstica, porque
tem aumentado o “feminicídio” nos últimos anos.
Nos últimos setenta anos, tivemos
grandes avanços na legislação e nas políticas públicas, especialmente para as
mulheres. São muitas lutas, vitórias e muito ainda a conquistar na sociedade. A
participação feminina em vários aspectos é muito visível e aceita, a própria
mulher passou a pensar e agir diferente de outras gerações. Não podemos
esquecer que ainda existe a dominação masculina, homens preconceituosos (e
algumas mulheres também!), ou seja, a defesa por igualdade de direitos - ou
equidade, ainda é uma constante, no seio do movimento feminista em todo mundo.
Nós mulheres, temos que continuar
quebrando paradigmas, podemos continuar sendo esposa, do lar, mãe,
trabalhadora, política, ou seja, fazer parte do espaço que quisermos, não o que
os homens querem que ocupemos.
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